sábado, 22 de outubro de 2011

O advogado dos escravos(8o.ano)

O advogado dos escravos
        O poeta e jurista baiano Luiz Gama brigava nos tribunais pela causa abolicionista. Sua trajetória exemplar é lembrada em duas biografias.
        Ele tinha apenas 10 anos de idade quando o pai, arruinado por dívidas de jogo, vendeu-o a um traficante de escravos, em 1840. Numa tacada só, perdeu a família, os direitos, a dignidade, e poderia ter perdido o futuro se não fosse um predestinado a superar dificuldades vida afora. Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) conseguiu aprender a ler e a escrever aos 17 anos, com a ajuda de um amigo, e mudou radicalmente a biografia que parecia ser seu destino: trabalhar, trabalhar e morrer anônimo, como acontecera a tantos outros negros brasileiros. Luiz Gama, como ficou conhecido, deixou de ser escravo em 1848, aos 18 anos.
       Para conseguir a mudança de status, comprovou, com documentos, que era filho de pai livre, um fidalgo português, e mãe negra liberta. Virou advogado, além de poeta, e trabalhou incansavelmente pela causa abolicionista. Advogava de graça para escravos desesperados que batiam à sua porta e triunfou em tribunais, onde devolveu a liberdade a mais de 500 pessoas. Nunca revelou o nome de seu pai. Se por um lado poupou-o de ser excomungado pelo gesto vil de vender um filho, por outro, preservou a si mesmo de ter de carregar o nome do traiçoeiro progenitor. A leitura de sua história, agora recontada nos recém-lançados livros “O Advogado dos Escravos” (Lettera.doc), de Nelson Câmara, e “Luiz Gama” (Selo Negro), de Luiz Carlos Santos, só nos faz lamentar um descompasso: que ele tenha morrido pouco antes da Abolição da Escravatura no Brasil, em 1888.
        A grande diferença entre as duas obras é que a primeira é uma alentada biografia com ilustrações e documentos, se não inéditos, pouco conhecidos. Mas ambas falam do mesmo homem que fez da advocacia um sacerdócio. Nascido em Salvador, na Bahia, ele tinha herdado o temperamento guerreiro de sua mãe, que não aceitava a vida como ela parecia que tinha que ser. Negra africana da nação nagô, Luiza Mahin era revolucionária e participava de insurreições. Sumiu em 1837: não se sabe se foi deportada para a África ou se foi morta.
        Já o filho, optou pelo Judiciário. Em uma dessas batalhas para alforriar um escravo, deparou-se com o argumento do dono do negro: “Por que queres ser infeliz sozinho? O que é que te falta lá no cativeiro?” Gama arrematou sua vitoriosa petição explicando a este senhor: “Falta-lhe o direito de ser infeliz onde, quando e como queira.” Luiz Gama, personagem importantíssimo no rompimento dos grilhões da escravidão, morreu pobre, em São Paulo. Seu velório fez a capital parar: três mil pessoas acompanharam seu corpo até o Cemitério da Consolação, onde está enterrado.




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